A EFICIÊNCIA ENERGÉTICA E OS NOVOS DESAFIOS PARA OS SISTEMAS PREDIAIS – Engº Jorge Chaguri Filho

No nosso dia-a-dia já nos acostumamos a olhar tudo o que compramos, consumimos e descartamos com uma visão mais crítica com relação ao impacto que isso gera ao meio ambiente, do ponto de vista energético, com relação aos resíduos, à água consumida ou impactos no processo de “aquecimento global”. Essa “nova visão” amadurece conforme as pesquisas científicas sobre o impacto do nosso consumo ao planeta avança, e chega definitivamente às nossas edificações.

Segundo o BEN – Balanço Energético Nacional – de 2016 (ano base 2015), o consumo de energia elétrica nos edifícios residenciais, comerciais e públicos representaram 50,8% do consumo de eletricidade no país, superior ao consumo de toda cadeia industrial do Brasil (37,6%). Além disso, neste mesmo ano, 43% do consumo nacional de Gás Natural foi utilizado para atender às necessidades das Termoelétricas, ou seja, para a geração de eletricidade com eficiência que podem variar de 4% a 45%.

Recentemente passamos por uma das maiores crises de abastecimento de água na história da região Sudeste, demonstrando a sociedade os limites do meio ambiente em nos fornecer água para consumo, e o impacto que o uso não racional pode gerar à todos.

Qual é o papel dos Sistemas Prediais nestes dados apresentados? Em uma edificação os sistemas prediais são os elementos que propiciam suportar os usuários com insumos, tais como eletricidade, gás, água, refrigeração, aquecimento e etc., ou seja, os serviços de um edifício. Através dos projetos de sistemas prediais definimos como os usuários da edificação irão consumir esses insumos, assim como o desempenho, a qualidade e a eficiência do uso da água e energia ao longo da vida útil do edifício.

Para o atendimento aos novos parâmetros de projeto (eficiência e gestão de consumo) há diversos elementos que estão sendo incorporados aos edifícios, tais como: geração de energia através de fontes renováveis (exemplo solar e eólica), redução das perdas nos sistemas, especificação de equipamentos de baixo consumo de água e energia, automação dos sistemas prediais, reaproveitamento dos rejeitos térmicos e água, sistemas de gestão de consumo e etc.

Para o desenvolvimento de um projeto de instalações incorporando novas tecnologias e sistemas é fundamental que essas aplicações estejam estruturadas para suportar projetos consistentes, instalações adequações, comissionamentos organizados, uso simples e manutenções sólidas. Dentro destas necessidades, os projetistas precisam do mercado amadurecido, com produtos normatizados e certificados, com empresas instaladoras qualificadas nestas atividades, com mão-de-obra treinada e capacitada, com departamento de compras treinado para as aquisições e contratações, com empresas de comissionamento com experiência no processo, com usuários treinados e conscientes das demandas de instalação, manutenção e operação, e empresas de manutenção qualificadas para suportar as necessidades ao longo da vida útil do sistema.

Dentro desta cadeia de necessidades, cada elo frágil coloca em risco o projeto desenvolvido, deixando ao usuário um sistema ineficiente, e comprometendo a confiabilidade da tecnologia aplicada, ou seja, não traduzindo ao consumidor final os benefícios estimados na concepção do edifício.

Apesar da necessidade de um período de amadurecimento das diversas tecnologias voltadas à eficiência energética e uso racional da água, diversas ações estão sendo construídas para fomentar a aplicação destas tecnologias e o aumento da eficiência energética em edificações. Além dos programas Aqua e LEED, o INMETRO desde 2014 possui um programa de certificação para edifícios comerciais, de serviços, públicos e residenciais, permitindo ao usuário uma avaliação da eficiência do edifício com relação à envoltória e aos sistemas prediais. Apesar da certificação ser voluntária, já há uma expectativa de transformação do processo de voluntário para compulsório, assim como ocorreu com diversos equipamentos certificados, tais como aquecedores, máquinas de lavar, geladeiras e etc.

Além de introduzir aos projetos de sistemas prediais esses novos elementos, ainda há um longo caminho de evolução destes programas para atingirmos os modelos atualmente aplicados em diversos países europeus. Esses novos modelos devem introduzir aos projetos de sistemas prediais a avaliação do desempenho energético de todos os elementos projetados, permitindo quantificar a expectativa de consumo energético do usuário no edifício projetado.

Essas novas ferramentas irão permitir que o usuário acompanhe, ao longo da vida útil da edificação, o consumo de energia atrelado à infraestrutura projetada e instalada, servindo de referência para modelos de Gestão de Energia que auxiliará o usuário na maximização da eficiência do consumo no edifício.

O que temos acompanhado nos diversos Fóruns Mundiais sobre o consumo de energia e seus impactos sociais, políticos e ambientais, é a consolidação da Eficiência Energética como política de sustentabilidade e o início de um longo caminho que visa a redução do consumo mantendo os atuais padrões de conforto e uso. Nesta jornada os projetos de sistemas prediais será o elemento mais importante para a construção de uma sociedade mais eficiente e sustentável!

ENGº JORGE CHAGURI FILHO
TermoH
Membro da ABRASIP
Revista do Sindinstalação – Ano 1 – Edição 07 – Outubro/2016