DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS – Engº Wang Mou Suong

No âmbito da Engenharia de Projetos de Sistemas Prediais, muitas vezes nos deparamos com situações embaraçosas (senão bastante melindrosas) diante de nossos clientes ou interessados em contratação de projetos e serviços de engenharia, quando estes, após realizarem tomada de preços junto às empresas prestadoras de serviços afins, encontram (e não raramente) valores de honorários profissionais ofertados donde os nossos custos são assumidamente muito mais elevados em relação aqueles outros participantes consultados.

Essa discrepância, de fato, alcança diferenças acima de 20%, senão, muito a mais, dependendo de tipo e complexidade de projeto, objeto da consulta atribuída.

Sabemos que este tema é tido como tabu, sendo bastante controverso e sensível, mas a pergunta é: …Onde está o errado desse disparate?

Das conjeturas prováveis, atribuindo-se a um universo imensurável de profissionais que atuam nessa área no mercado, podemos elencar:

• Falha ou falta de percepção do teor de complexidade do projeto orçado;

• Carência de embasamento profissional e de critérios técnicos na elaboração de proposta orçamentária;

• Apelo circunstancial à necessidade de abastecer a demanda de trabalho da equipe técnica e/ou suprir os custos operacionais e administrativos da estrutura da empresa;

• Utilização de recursos técnicos e equipe profissional menos qualificada, com consequente redução de custo necessário;

• Possível prática de informalidade na contratação de profissionais e na aquisição de recursos e softwares operacionais;

• Terceirização recorrente de serviços técnicos, muitas vezes sem a devida qualificação necessária dos profissionais envolvidos;

• Fornecimento de projeto sem o adequado cumprimento do escopo exigido e, por consequência, omissão de informação, conteúdo e/ou detalhamentos, por via de regra, relevantes;

• Precariedade ou deficiência de recursos humanos devidamente qualificados para atendimento pós-venda às demandas necessárias e feedbacks.

A considerar pelo fato de estarmos vivenciando neste momento uma realidade bastante dura e ambígua diante do atual cenário sócio-econômico-político, ainda assim, entendemos que a relação “oferta e demanda”, imposta como lei de mercado, e determinada de forma enfática, a prática de preços tão aviltantes e depreciativos, deve ser cuidadosamente ponderada pelos colegas da nossa classe de Engenharia para patamares referenciais que possam valorizar o mínimo do nosso exercício profissional. Nesse sentido, estaremos promovendo a dignidade e sustentabilidade da nossa Engenharia, de modo a conter o êxodo de profissionais para outras áreas de trabalho, quando se submetem muitas vezes a atividades não compatíveis com a sua formação vocacional e técnica.

Como proposta, consideramos a necessidade de disciplinar de forma contundente a prática de preços pelo mecanismo de tabela de honorários, tal como era (e ainda é) utilizado por muitos anos pela maioria de nós, projetistas, através do “Manual de Critérios para fixação dos Preços de Serviços de Engenharia”, publicação essa de autoria do Instituto de Engenharia, cuja credibilidade e seriedade desta instituição é bastante respeitada no mercado de construção civil. Entendemos que essa ferramenta deve ser adotada e revisada pela Abrasip, em ação conjunta com o IE, no sentido de fomentar nosso trabalho e nortear os valores referenciais de preços de projetos e serviços de nossa atividade.

Vale ressaltar também, por outro lado, que o cliente, ao contratar um projeto somente pela regra de “menor preço”, nem sempre irá obter um trabalho dentro da sua expectativa, salvo quando este for leigo ou pouco consciente diante da responsabilidade do serviço contratado, sem devido conhecimento pleno de conteúdo de projeto. Nesse caso, pode-se aplicar o axioma de “o barato sai caro”, pois, nem sempre, as soluções técnicas ou econômicas estabelecidas no projeto recebido sejam das melhores na relação custo-benefício. Muitas vezes, porém, essa relação tampouco é avaliada ou contabilizada na conclusão da obra, seja por falta de parâmetros referenciais ou por descaso nesse item orçamentário, considerando que o mesmo já estaria embutido na planilha de custo global do empreendimento.

Então, se continuar a pagar barato pelo projeto seja uma cultura generalizada de prática de mercado, o que se obtém em contrapartida, é a relação “dois pesos, duas medidas”.

Será que vale a pena mesmo, ou é um eterno dilema para contratação?

ENGº WANG MOU SUONG
PHE ENGª DE PROJETOS
Presidente do Conselho da ABRASIP
Revista do Sindinstalação Ano 2 – Edição 23 – Fevereiro/2018