HORIZONTAIS – POR QUE NÃO? – Engº Fábio Pimenta

O escoamento nas redes de drenagem de águas pluviais, quase sempre se dá à superfície livre, e a maioria dos textos sobre o assunto, inclusive as normas aplicáveis, prescrevem que os condutores (tubulações, canaletas e canais) – designados como condutores horizontais – devem ter declividade no sentido do escoamento. Diante disso cabe uma reflexão: Porque essas tubulações precisam ter declividade no sentido do escoamento?
Alguém mais desavisado poderia responder que, sem declividade, o escoamento não ocorreria, mas sabemos que o escoamento se dá sempre no sentido da diminuição da energia, independen-te da declividade do fundo.
Mas em uma análise mais cuidadosa encontraremos vários motivos para a declividade desses condutores:
• Sem declividade, a movimentação de suportes, inevitáveis recalques e deformações do edifí-cio e/ou da própria tubulação, mesmo pequenos, podem ser suficientes para criar pontos bai-xos, causando acumulo de água, potenciais causas de mau cheiro e criadouro de mosquitos.
• Garantir velocidades mínimas do escoamento, mesmo com pequenas vazões, de modo a mi-nimizar a deposição de sujeira, sedimentos e outros materiais sólidos no fundo da tubulação.
• No caso de condutores com secção fechada, diminuir a probabilidade de que a superfície do escoamento encontre a geratriz superior do condutor, com o risco de transformar o regime de escoamento, o que exigiria a consideração de outros fatores.
• Obedecer às normas aplicáveis.
E sendo realista, além desses argumentos, outro fator preponderante é que o dimensionamento de condutores com declividade é muito mais simples e rápido, quase sempre se adotando a boa e velha fórmula de Manning.
Cabe ressaltar que essa metodologia de cálculo é uma simplificação, já que pressupõe que o es-coamento seja em regime uniforme e ocorra com lâmina d’água igual à altura normal, o que rara-mente ocorre em casos práticos.
No entanto é necessário reconhecer que, para o caso das tubulações de instalações prediais de águas pluviais, esse método de cálculo é bastante simples e dá bons resultados, que vêm sendo testados e aprovados com sucesso ao longo de décadas.
Mas no caso de canaletas e canais de águas pluviais, a geometria horizontal constitui uma solu-ção tentadora, muitas vezes apresentando diversas vantagens. canaletas e canais escoam gran-des vazões, e em trechos longos ocupam apenas uma fração da altura que seria ocupada pela declividade de tubulações com capacidade equivalente, quase sempre com menor custo de cons-trução. Mantendo a secção transversal ao longo do seu comprimento, quase sempre são mais rá-pidos e simples de executar do que seus equivalentes com declividade, devido à uniformidade e à padronização construtiva.
Algumas das aplicações em que esses benefícios são mais evidentes são:
Calhas longas em coberturas
Utilizadas em grandes coberturas, evidentemente sua construção, suportação e instalação aca-bam sendo muito mais simples por serem horizontais e com secção constante. O fato de terem fundos horizontais facilita a consideração de redundância dos bocais de saída, e muitas vezes por isso resulta em calhas com menores alturas.

Canaletas de condução
Em situações em que o percurso de condução é longo e o desnível disponível é limitado, canale-tas podem oferecer uma solução muito conveniente. O desnível necessário quase sempre é muito menor do que o que seria necessário utilizando condutores com declividade.

Canaletas de condução e retenção
Em grandes pátios pavimentados, quase sempre canaletas horizontas com grelhas, desempe-nhando ao mesmo tempo as funções de captação e condução de água oferecem uma solução bem mais simples e econômica, evitando a necessidade de múltiplos elementos como sarjetas, sarjetões, caixas de captação e tubulações enterradas, com os benefícios adicionais de melhores condições de manutenção por oferecerem acesso fácil.

Retenção de águas pluviais
Devido às dimensões significativamente menores que outras alternativas, muitas vezes canaletas de condução de águas pluviais podem ser utilizadas também com dispositivo de retenção de á-guas pluviais. Com a instalação de uma soleira vertente em seu extremo de jusante e pequenas alterações de dimensão, o volume retido pode ser significativo, reduzindo a capacidade ou muitas vezes até eliminando a necessidade de instalação de outros reservatórios de retenção.

Ao lado benefícios que podem ser significativos, em todos os casos alguns cuidados devem ser tomados:

Deve ser analisado se é necessário tomar medidas para evitar o acumulo de água parada depois do fim do escoamento, e em caso afirmativo, que medidas serão essas. Quase sempre isso pode ser resolvido com saídas de fundo exclusivas para esvaziamento, prevendo-se declividades de fundo com esse objetivo específico, mesmo que no sentido oposto ao escoamento. Calhas expostas ao ar livre e bem ventiladas normalmente secam pouco tempo após o final da chuva, e têm baixo risco de acumulo de água.

Outro cuidado a ser tomado em todos os casos é prever meios de efetuar a limpeza das canale-tas. No caso de canaletas sem declividade, essa necessidade é ainda mais justificável, já que são mais propensas a acumular sujeira em seu fundo, principalmente em áreas urbanas.

ENGº FÁBIO PIMENTA
PROJETAR
Membro da ABRASIP e 1º Presidente da entidade
Revista do Sindinstalação – Ano 1 Edição 10 – Janeiro/2017